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Braço do Norte,14/03/2025

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Cristiano Alves

Somos todos gnus


Somos todos gnus

Todos os anos, milhões de gnus cruzam as vastas planícies africanas em um dos espetáculos mais impressionantes da natureza. Guiados por um instinto primitivo e uma necessidade de sobrevivência, eles atravessam rios infestados de crocodilos e percorrem centenas de quilômetros sem questionar. Eles apenas seguem a manada, sem saber exatamente por que estão indo ou para onde chegarão. E assim, sem refletir sobre o caminho, continuam sua jornada, repetindo o ciclo ano após ano.

A analogia com o comportamento humano nas redes sociais é inevitável.

Milhões de pessoas, sem qualquer preocupação em verificar a veracidade das informações que consomem, compartilham fake news com a mesma naturalidade com que os gnus atravessam os rios traiçoeiros da África.

No entanto, enquanto os gnus seguem um impulso natural de sobrevivência, os seres humanos dispõem de uma capacidade única: o pensamento crítico. E, ainda assim, muitos escolhem abrir mão desse privilégio, tornando-se presas fáceis de narrativas enganosas e manipulações de interesse.

As fake news se espalham com uma velocidade alarmante. Estudos mostram que informações falsas circulam seis vezes mais rápido do que as verdadeiras, impulsionadas por algoritmos e por um desejo quase inconsciente de reforçar crenças pessoais. Assim como os gnus que se lançam aos rios sem questionar, multidões compartilham manchetes chamativas, teorias conspiratórias e boatos que lhes chegam sem qualquer checagem, alimentando um ciclo de desinformação que mina a sociedade.

Mas quem são os crocodilos dessa travessia? São aqueles que, intencionalmente, produzem e disseminam notícias falsas para obter vantagens políticas, econômicas ou simplesmente para semear o caos. Políticos inescrupulosos, grupos de interesses obscuros e até indivíduos movidos pelo prazer da desordem sabem que as fake news encontram terreno fértil na ignorância e na passividade. Eles confiam que, tal como os gnus, muitas pessoas simplesmente seguirão a corrente, sem parar para refletir.

E os perigos dessa jornada são reais.A desinformação pode comprometer processos eleitorais, gerar pânico social, incentivar discursos de ódio e até colocar vidas em risco, como aconteceu durante a pandemia de COVID-19, quando boatos sobre curas milagrosas e descredibilização da ciência levaram milhares à morte.

Cada notícia falsa compartilhada sem reflexão é um passo em direção a um abismo perigoso, onde a verdade se torna irrelevante e a manipulação se fortalece.

Diferentemente dos gnus, que não têm alternativa senão seguir seu instinto, nós, seres humanos, temos a capacidade – e a responsabilidade – de questionar, investigar e formar nossa própria opinião. Em um mundo onde a informação é abundante, mas nem sempre confiável, a educação midiática se torna uma necessidade urgente. Antes de compartilhar qualquer notícia, devemos nos perguntar: Qual é a fonte? Há evidências concretas? A informação faz sentido? Sem esse filtro crítico, corremos o risco de sermos apenas mais um na multidão, guiados pelo ruído das redes sociais em vez do bom senso.

A travessia dos gnus, apesar de perigosa, é essencial para sua sobrevivência. Já a marcha da desinformação, impulsionada por fake news, pode ser fatal para a democracia, a liberdade e a própria sociedade. Está na hora de pararmos de agir como meros seguidores e começarmos a pensar como cidadãos conscientes. Afinal, diferentemente dos gnus, temos a capacidade de escolher nosso próprio caminho.



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